sexta-feira, 30 de novembro de 2007

- A Ciência e a Arte pertencem ao mundo inteiro e diante delas desaparecem as barreiras da nacionalidade ! (Goethe, poeta e escritor alemão, 1749-1836)

DIAS …


Picasso - La Vida





A vida portuguesa pode ser apelidada de muitas coisas, mas seria calunioso acusá-la de aborrecida.

Passam-se muitas coisas todos os dias e outras acabam por nunca se passar e trazemo-las à colação com o interessado truque da memória histórica, que serve a alguns para aferroar o rancor e a outros para impedir legítimos direitos a recordar.

Também sucedem coisas novas: somos dos países da EU onde mais circula cocaína e canabis.

Um recorde favorecido pela geografia, já que estamos muito próximos do Norte de África, (como a Espanha), mais propriamente de Marrocos e com muitos emigrantes na América Latina.

Talvez o mais influente seja o preço do petróleo que se acerca dos 100 dólares, mas há algo pior: que o presidente da OPEP, que deve saber algo sobre isso, augure que vai chegar aos 200 se se ataca o Irão.

O crude converteu-se numa arma, tão negra como todas as outras.

O certo é que a vida não está quieta.

Será que a reforma penal irá agravar os castigos para os insensatos condutores que gostam de andar a 200 quilómetros por hora?

Estes são os que deviam estar quietos nas suas garagens, lavando e limpando os automóveis.

Também serão contemplados os condutores sem carta, que não havendo estatísticas, (também para que servem ? São números!), mas estimam-se em alguns milhares.

A política rodoviária é catastrófica, mas no meio de tanta bagunça, por que teria de ser uma excepção?

A mim também me passaram coisas por estes dias.

O mais importante que poderia ocorrer-me.

Poderia dizer que já estão sós, o meu coração e o mar, mas já o disse alguém que expressava muito melhor que eu os seus sentimentos.

Mais a mais, não seria verdade.

Há outro coração e outro mar gémeos dos meus.

Estou um pouco aturdido, com isto da minha memória histórica pessoal.

"A vida prossegue", dizem-me os meus amigos.

A verdade é que não estou muito convicto.

Segundo a bitola a que chamamos vida.


quinta-feira, 29 de novembro de 2007

- Faça o necessário, depois o possível e, de repente, estará a fazer o impossível ! (Francisco de Assis, 1182-1226)

TUDO SÃO NÚMEROS






Se não tens uma empresa, o melhor é que não faças cálculos, salvo o caso de aspirares a ter uma.

Sabe-se que um livro ajuda a triunfar, sobretudo se é um livro de contabilidade, mas também se sabe que é preferível ler outros; os que ensinam a não aspirar a ser o número um e que "com o número dois nasce a pena ou comiseração".

Vírgilio, que se conhece ter sido algo supersticioso, disse que os deuses gostam dos números ímpares.

A verdade é que sempre tiveram boa fama, incluso antes de inventar-se a imprensa, mas ninguém ignora que com números pode demonstrar-se qualquer coisa e basta colocá-los no lugar conveniente.

Agora em Portugal, fazem-se muitos números, incluindo os circenses e nem todos a cargo do nosso voluntarioso governo, (será que todos conhecem os números ?).

Quantos mais tu depois de oito são dez?, pergunta o "refraneiro", que gosta de deixar sem contestação os seus interrogantes.

Denúncias várias, calculam que uma em cada mil portuguesas sofre maus tratos, (de índole vária), mas nunca poderemos saber a percentagem exacta das que sofrem em silêncio.

Os números oficiais, ou são as mortes, as feridas ou as que conseguiram ainda falar, para se queixarem, (fala-se em números, sempre números impessoais, cerca de 6000/ano 2006).

Enquanto calam, a lei contra a violência do género será do género tonto, mas a estatística, se bem que não ajude a corrigir algumas coisas, aporta dados para se saber o número das que são incorrigíveis.

Fazem-se números sobre os imigrantes ilegais e sobre os nativos que pairam nas nossas calçadas.

São dois balanços desoladores.

Parece-me pois, que ainda ninguém teve a santa paciência de os contar, que são milhares os pobres que vivem nas ruas.

Mais pobre, menos pobre.

Uma contabilidade muito difícil de fazer, sobretudo no inverno, já que o seu número se altera à medida que vão morrendo de frio alguns e se incorporam outros, no calor da caridade dos transeuntes.

Fazer o balanço do terror ocupa bastante tempo.

Talvez o mesmo que seja necessário para impedi-lo!


quarta-feira, 28 de novembro de 2007

- Não há nada tão poderoso como a verdade ! (Daniel Webster, norte-americano, 1782-1852)

QUEM PAGA MELHOR ???





Os homens morrem e não são felizes.

Esse era o resumo da sua experiência vital que fazia o Calígula de Alberto Camus, depois de ter tirado a vida a um montão de gente.

Nós portugueses poderíamos resumir a nossa estância terrestre em dois traços essenciais: não encontramos um buraco para viver e acreditamos em tudo.

Ou seja, há falta de habitação mas sobra a credulidade.

Os jovens não encontram um sítio onde cair vivos e continuamos confiando na extrema fama, do engano com aparência de utilidade, ou melhor do logro que nos vendem os políticos.

Agora estamos a meia temporada ainda que achemos que estamos nos seus primórdios.

Se houve uma época em que tudo era Carnaval, nesta, todos os meses são eleitorais.

Não sabemos quanto custa um pente, mas a quem comprar um oferecem-lhe dois, como os vendilhões de passeios.

"O futuro é o que está para lá da mão estendida" dizia Louis Aragon (*), mas visto isto assim, há muitos que, nos o pintam de rosa.

Há quem promete evitar novos escândalos económicos, ainda que nos omita dizer, como vai modificar a natureza humana.

Outros prometem construir mais prisões, mais asilos, albergues ou mais pomposamente, lares, mais carros ecológicos, desses que não contribuem para acelerar as mudanças climáticas, mas que alcançam a mesma velocidade que os seus iguais "sujos", para poderem fugir deles.

Também as prisões vão continuar a não ter qualidade nem qualificação, pois nenhum político que as tutela, espera vir a compartilhar esse tecto.

As mais sugestivas das promessas referem-se, como é natural, ao dinheiro.

Isso de dizermos que todos vamos ganhar mais, é como oferecermos, que no cinema, todos os bilhetes vão ser de 1º balcão.

As medidas tomadas pelo PS, sobre aumentos (?) como são abaixo da inflação, não serão aumentos, mas sim um acrescento que não cobre os pés dum bebé, quanto mais o corpo todo.

O PSD, quer aumentos mais percentualmente elevados, porque está na oposição e depois do esbanjamento que fizeram em proveito próprio, quando no governo, continuado por estes seus sucessores da mesma igualha, vêm criticar a matemática que está enraizada no poder.

Haverá alguém que ofereça mais ???

Não é que suspeitem que nós, os eleitores somos tontos: É QUE O TEMOS COMPROVADO EM MUITAS OCASIÕES !!!


(*) Louis Aragon – Poeta e escritor francês, 1897/1982

- A felicidade não é o prémio da virtude, é a própria virtude !
(Spinoza, filósofo holandês, 1632-1677)

terça-feira, 27 de novembro de 2007

PROFECIAS (???)






A directora da Divisão de População das Nações Unidas, que bastante trabalho tem em contá-las, vaticinou algo que todos já suspeitávamos: que os países desenvolvidos teriam cada vez mais imigrantes.

Não nos faziam falta sibilas, já que basta espreitar os caíques, as pateiras e canoas.

Para onde hão-de ir os esfomeados, senão para sítios onde ouviram rumores de que há pessoas que têm o costume de comer um par de vezes ao dia?

As nações que cumprem esse objectivo ver-se ão cada vez mais assediadas, já que os imigrantes não planeiam viagens a sítios onde exista uma penúria equivalente e tão pouco é provável que vão para o Bengladesh, onde podem ser apanhados por outro ciclone como o "Sidr", que não só arrasa estômagos como o resto do organismo.

Hania Zlotnik, adverte-nos: haverá cada vez mais gente de fora, disposta a aceitar os trabalhos que os nativos desdenham.

A desagradável consequência é que crescerá a xenofobia.

Já sabemos que há pessoas que não querem trabalhar, nem aceitam que trabalhem estrangeiros.

Tudo pela pátria, menos dobrar o lombo, mas de alguma forma há que demonstrar o patriotismo e eles descobriram a fórmula, que consiste em repudiar os trabalhadores de diversas epidermes.

Por muito hospitaleiros que sejamos nunca chegaremos a considerar os que vêm de longe como um semelhante e o que mais lhes temos concedido é a categoria de diferente.

Se entretanto é pobre não poderá ascender na escala, o que confirma que a miséria é uma nacionalidade.

Os países de acolhimento vão ter de acolher mais gente da que cabe neles e virão mais conflitos.

Colocar arame farpado electrificado nas fronteiras, aumentaria o recibo da luz, nem tão pouco é possível colocar letreiros, dando-lhes as boas vindas e desejando-lhes uma boa digestão.

Quem conhece a resolução do problema não deve ocultar por mais tempo a solução.


segunda-feira, 26 de novembro de 2007

- Adopta o ritmo da natureza: o seu segredo é a paciência ! (Emerson, poeta, escritor e filósofo norte-americano, 1803-1882)

MUDANÇAS





Mudar de hábitos ou costumes só se deve intentar se temos tempo para outros novos.

Em certas alturas da vida, quando já comprovámos que os nossos hábitos eram "malíssimos", mas que não nos conduziram com urgência a um mal final, não vale a pena modificá-los.

Segundo alguns amigos médicos, de mesinha de cabeceira das últimas (ou últimos suspiros) ou quase, limpar dos cílios pulmonares todo o rasto da cilíndrica marca do tabaco, custar-me ia uns quinze anos.

O álcool, pelo contrário, é menos rancoroso.

Se deixar de beber, não tenho nenhum motivo, mas cada vez tenho mais motivos, a impressão etílica duraria menos tempo.

Se um bebedor empedernido, subitamente convencido, deixar de dar ao frasco, o seu fígado recuperaria ao cabo de algum tempo, não muito comparado com a eternidade.

Falo destas coisas, pessoais mas transferíveis, porque me convenceram da inexorabilidade da mudança climática, mas agora querem-me convencer de que entre as minhas angustiantes obrigações entra a de cuidar-me.

E além disso, pessoalmente.

Nunca considerei que fosse uma criatura tão importante que mereça mil cuidados, mas ao fim e ao cabo sou um português mais e, informaram-me de que, nós os portugueses, estamos na cauda da Europa em costumes de vida saudável.

Há entre nós mais fumadores, mais bebedores e mais obesos que em qualquer outro local controlado, do largo mundo.

Parece-me, segundo o que leio, que aumenta o número de partidários do ingerir verduras, mas para minha desgraça, conheço uma maior quantidade de pessoas que bebe, do que partidários de alfaces, que parece-me que não só nos fazem bem, como não deixam ressaca.

A mudança climática pode ser detida, se tomarmos decisões oportunas, mas a mudança de costumes não pode ser imediata.

Não só há que dizer isto de: "a partir de manhã mudo de vida".

No dia seguinte podemos dizer o mesmo!


sábado, 24 de novembro de 2007

- O nosso carácter é o resultado da nossa conduta ! (Aristóteles)

O ENCONTRO





A última vez que a vi foi em 1990, mas não pudemos ficar com nada porque ela foi viver para Londres.

Tão pouco posso dizer que a vira, já que estava de costas.

Nem me recordo como se chamava.

Diz-se que é curto o amor e grande o esquecimento, mas no meu caso é ao contrário.

O meu grande amor só me permitiu esquecer o seu nome, não o resquício do seu fogaréu, que continua a aquecer-me o coração.

Agora poderei voltar a encontrá-la, não a sós, mas sim entre muita gente.

O caso é para voltar a vê-la.

Ainda que não me recorde do seu nome, tenho-a indelevelmente em memória.

Creio que ia para sereia.

Uma sereia toda de carne na qual se notava uma certa indolência aprazível.

Não virou nunca a cara, só o seu reflexo, mas não me pode ocultar as suas ancas bem torneadas, nem o escorço, mais de violino que de guitarra.

17 anos de ausência são mais do que suficientes para apagar uma fogueira interior, por muito que iluminasse nesse momento.

Soube dela pelas vicissitudes da sua vida.

Soube pela imprensa que tinha sofrido um atentado.

Uma sufragista do seu país de acolhimento, sem dúvidas de rígidos costumes morais, assestou uma punhalada nas gloriosas nádegas.

Recompôs-se pouco depois, graças aos cirurgiões, mas esteve em convalescença uma temporada.

Logo de seguida a sua vida foi aprazível, rodeada de admiradores.

Porque foi tão poucas vezes a Madrid?

E o que é mais estranho: porque ninguém a pode contemplar de frente?

A julgar pelo reverso, devia ser duplamente prodigioso.

Dentro duns meses, (no Verão), vou voltar a vê-la.

Temos um encontro unilateral.

Todos a conhecem como a "A Vénus do Espelho" e está pendurada no Museu do Prado.

Agora me recordo.

Chamava-se Olimpia.

Sim,

Olimpia Triunf.

Dizem que Velázquez teve um filho dela, mas pode ser que sejam só falatórios.


sexta-feira, 23 de novembro de 2007

- O talento educa-se na calma; o carácter educa-se na torrente do mundo ! (Goethe, poeta e escritor alemão, 1749-1836)

A BEM DA NAÇÃO, quer dizer da "república" !!!


CORRIDA AOS LUGARES DE ASSESSORES !





Ando a adiar de dia para dia, mas hoje, quando foi aprovado o OE para 2008, lembrei-me do assunto.

É que os orçamentos são para isto mesmo, para contabilizar os rombos, não os da dízima, mas o das dizimadas famílias e por outro lado, verificar a esportulação desbragada dos mais elementares meios de sobrevivência aos que não têm poder.

Coitadinhos …

O "Estatuto do Deputado", publicado algures em Junho ou Julho, para impedir de carregar muito as bestas de carga, alvitrou e publicou que, cada deputado pode passar a ter um assessor, ou uma assessora (a lei não o diz, mas deve subentender-se os dois sexos) pessoal.

Estes escrivãos, escrivões, escrivães, escrivãs, escribas ou escravos, não são contabilizados pelos que já vagueiam pelos grupos parlamentares.

São mais 232 empregos em pleno, pelo menos no salário, para abater aqueles milhares que já foram criados e que devem estar a atingir quase a meta dos 150.000.

Nem sei se este número se referia a desempregados … a criar.

Assim, já as mulheres, maridos, avós, filhos, amigos, pelo menos um, terá mais um tacho.

Os carpinteiros também não tiveram mãos a medir, porque houve que fazer mais 232 mochos.

O novo aeroporto, ficará um bocadito mais dispendioso.

São estes os assessores que irão buscar os papeis, encher as canetas, escrever os discursos, ortograficamente correctos, já que gramaticalmente, o português é uma língua difícil.

Poderão faltar com o deputado e dormir por eles no Parlamento.

Na vida mais íntima, não sei se continuam assessores ...

Mas que vida mais triste.

Há uns tempos atrás, o PS tinha só, 76 assessores, o PSD, 53, o BE 26, o PCP, 24 e o CDS 22.

Eram um total de 201 assessores, á média de 0,87 assessores por deputado.

O BE contava com os 3,25 assessores por deputado.

Ou faltam mais, dormem mais, escrevem mais, aproveitam-se mais …

Toda esta gajada, custa-nos os 4 olhos.

Sim, aqueles com que vemos o dinheiro a fugir da carteira, o olho da consciência, para condenar isto tudo e o olho que vocês estão a pensar!

Bem feitas as contas, são 2000 euros por assessor/mês.

Uns míseros 5 a 7 milhões de euros ao ano.

PAGOS POR QUEM?

Por tudo isto, não se podem baixar impostos, têm que se fechar maternidades, urgências, escolas, despedir funcionários e professores.

TUDO ISTO A BEM DA NAÇÃO !!!


quinta-feira, 22 de novembro de 2007

- Como é horrível odiarmos quem desejávamos amar ! (Voltaire)

A SEMENTEIRA


De fragmentação


Antipessoal


Há que ter muito cuidado e ver bem onde pomos os pés, não se dê o caso de nos terem que sacar com eles para a frente.

Inclusivamente é conveniente colocar muita atenção ao pisar o chão, mesmo à duvidosa luz do dia, que segundo Manuel Machado(*), tem cor de aguardente com água.

Os artífices das Nações Unidas calculam que só no Líbano, há um milhão de bombas de fragmentação sem desactivar, em números redondos, como coroas fúnebres para os mortos sem nome e sem coroa.

A sementeira foi muito laboriosa e a colheita não pode decepcionar os semeadores.

A maioria destes engenhosos artefactos, foram lançados três dias antes do acordo de cessar fogo, já que havia que aproveitar o tempo.

Israel tinha previsto retirar-se num dia em que haveriam de chegar 5000 capacetes azuis, aos territórios dominados pela guerrilha do Hezbolah.

Há empresas de limpeza especializadas nestes perigosos trabalhos.

Não poderiam viver do seu trabalho se antes, outras empresas especializadas em montar as guerras, não tivessem óptimos gerentes.

Temos progredido muito na arte de matar desde o tempo do arco e da flecha.

As chamadas bombas de fragmentação, que são a vindima das "vinhas da ira", têm a vantagem de que podem ser lançadas a partir de qualquer tipo de avião de combate.

A mensagem não é o meio.

No seu curto trajecto, as bombas desdobram as suas asas e giram sobre o seu eixo.

Uma maravilha da engenharia bélica.

Morte por aspersão.

Nunca foi necessário despertar do sonho "kantiano" da "paz perpétua", já que a humanidade nunca se conseguiu conciliar.

Chamamos paz aos períodos de férias que transcorrem entre uma guerra e outra.

Há que clamar ao céu rogando pela paz, com os braços estendidos, mas tendo muito cuidado por onde pisamos com gentileza.

Não se dê o caso de termos que comprar uns sapatos novos.

(*)Manuel Machado, poeta espanhol, 1874/1946

VERANO

Frutales (pomares)
cargados. (carregados)
Dorados (dourados)
trigales... (trigais, cearas)

Cristales (cristais)
ahumados. (fumados, baços)
Quemados (queimados)
jarales... (estevas, cearas)


Umbría (sombriaa)
sequía, (seca, estiagem)
solano... (vento, vento quente que vem de África)


Paleta (paleta de pintor)
completa: (completa)
verano. (verão)


quarta-feira, 21 de novembro de 2007

- O génio inicia belas obras; mas é só o trabalho que as termina ! (Joseph Joubert, moralista francês, 1754-1824)

CRIANÇAS !




Há milhões de crianças que nunca viram um "donut" e outros milhões que nunca viram um brinquedo, salvo os brinquedos bélicos para os graúdos, que são as armas.

São criaturas recentes, dispostas a passar uma breve passagem por este mundo, já que duremos mais ou menos, todos morremos jovens.

Vejo-os de perto, quando gostaria de viajar mais além da minha poltrona e comprovar que se podem fazer grandes trajectos, olhando para um atlas onde as cordilheiras são como pirilampos e os rios como cabelos dum deus ou dum anjo, daqueles que os há nos céus.

Li uma crónica dum jornalista, que em visita à Nicarágua, arranjou como cicerone, um miúdo chamado Escolita, para lhe indicar a "casita" de Rúben Dario, (Poeta Nicaraguense, 18.01.1867/06.02.1916. É considerado um dos maiores poetas da língua castelhana).

Ás tantas, pergunta-lhe o jornalista:

- Como disseste que te chamavas ?

- "Escuelita, señor.

Então explicou a razão do seu nome.
A sua aldeia chamou-se em tempo "Motapa" e em tempos mais antigos, "Cocuyos" e agora era a "Cidade Dario", pois tinham chegado uns senhores vestidos de labita ou levita, que explicaram que a primeira coisa é a cultura e que havia de começar pela escola primária.

O seu pai acreditou nisso a pés juntos e de tal maneira que lhe colocou aquele nome, Escuelita.

Agora milhares de crianças nicaraguenses recebem brinquedos, enviados pela Espanha.

O Pai Natal, que só trabalha um dia por ano, nunca trabalhou na Nicarágua.

Desde o ano que se iniciou o calendário cristão, está em ano sabático.

Não podemos estranhar que fiquem desertas as varandas e que não haja ninguém nos parapeitos, porque não há nenhuma dessas coisas para lhe colocar em cima.

A Nicarágua é o segundo país mais pobre da América Central.

O primeiro é o Haiti.

Coincidentemente, ambos foram intervencionados militarmente pelos "poderosos" senhores do mundo, os americanos.

Ditaduras hereditárias subjugam os nicaraguenses, aos quais a democracia foi enxotada pelo poder das armas dos "conquistadores que vieram dum país mais a norte".

"As crianças curam a alma!" disse um russo que tentou, escrevendo novelas, decifrar a natureza humana.

Ali, há muitos que nunca ninguém lhes deu um beijo, que é muito mais grave, do que nunca lhes terem dado um brinquedo.

terça-feira, 20 de novembro de 2007

- O futuro dependerá daquilo que fazemos no presente ! (Mahatma Gandhi, 1869-1948)

TUDO TREPA





Estamos nos primeiros tramos, mas a montanha tem sete círculos, como diziam os míticos alpinistas.

A subida dos preços, dos chamados alimentos básicos, que por certo não preocupa nada a quem baseia a sua alimentação noutras coisas, igualmente satisfatórias, mas algo mais caras, está a estremecer a bolsa.

A bolsa das compras.

A globalização consiste em que se sobe o preço do petróleo, sobe também o do leite.

O branco e o negro, são dois líquidos comunicantes.

A oposição, que não desperdiça nenhuma ocasião quando pode, para culpar o governo, diz que o dito governo é um perigo para o bolso do cidadão.

Parece que eles não sentaram os gordos traseiros, nas mesmíssimas posições e com os mesmíssimos problemas para resolver.

Nada fizeram, mas agora que estão fora, solucionam tudo.

Alguns de nós perguntamos com todo o devido respeito a todos eles que se crêem capacitados para melhorar a convivência, se as coisas estariam baratissimas e todos os problemas resolvidos, se estivessem no lugar dos que nos governam.

É certo que agora um litro de leite vale quase tanto como um litro de gasóleo. Também é verdade que o gasóleo não serve para nos alimentarmo-nos e que o leite, não está apto para ser combustível.

Portanto, são comparações arbitrárias e não confundem ninguém.

Por muito que os políticos nos clamem ao engano, cada vez os ouvimos com menor atenção, havendo no entanto quem ainda os escute.

A escalada de preços que está a iniciar-se, vai precipitar alguns oradores.

O feito lamentável que atingiu a subida do preço do pão, recorda-nos que não é o mesmo, pregar que dar trigo, mas também se projectam, ao abrigo dos chamados "artigos básicos", outras subidas.

Que aumente o preço dos ovos, que se lixe e que suba o preço do tabaco, mas o leite é o leite.

O BCE alerta para os efeitos dum euro forte e vaticina mais inflação.

O petróleo anda perto dos 100 dólares, valor que muitos milhões de pessoas não alcançam no fim do mês.

Quer dizer-se que, entretanto, o país segue vendo muito bem os seus habitantes, que têm que preparar-se para passar pior.


segunda-feira, 19 de novembro de 2007

- Nunca desencoraje ninguém que continuamente faz progressos, não importa quão devagar ! (Platão)

DESCONFIADOS ou SUSPEITOSOS





Cada vez se desconfia de mais gente, ainda que não pertença ao mesmo partido.

Até agora suspeitava-se de quem professava por forte convicção, forte conveniência ou forte inspiração, os mesmos ideais.

Pessoas de boa fé, inclusive com boa esperança, que compreenderam a tempo que é mais fácil ter uma ideologia que ter uma ideia diferente de outra.

Neste momento agitado, que tanto se falou de células da ETA e terroristas, placidamente à beira-mar instalados, neste pequeno país, aumentou, de certeza absoluta e exponencial, o número de suspeitosos, graças à contribuição de companheiros, camaradas e colegas.

Ninguém se fia em ninguém.

Inclusive há suspeitos que deixam desconfiados os elementos das forças de segurança por não infundirem a menor suspeita.

A investigação criminal, deve contar com quase tantos detectives como presumíveis criminosos, realiza uma meritória difusão de meios.

Houve um tempo em que as pessoas mal encaradas, se além disso iam mal vestidas, diziam-lhe isto:

- Identifique-se!

Para deter alguém, bastava uma superficial inspecção facial.

Actualmente, a prova de ADN, permitirá resolver os mais obscuros casos e com inusitada rapidez.

Todos trazemos no sangue um cartão delator de identificação flutuando como um afogado.

O sangue, que "sempre foi colorido", acusa o seu eventual dono.

Inclusivamente nos casos dos que tenham sangue azul.

Muitos e muitos casos poderiam ser resolvidos pela ou por uma Polícia científica, graças aos científicos da verdade.

Uma lei que regulamentasse a obtenção de amostras genéticas aos suspeitosos de delitos graves, sem que seja necessário pedir-lhe consentimento.

Seria algo novo na luta contra a delinquência e representaria um avanço, só comparável ao que suponho ter sido, nos tempos posteriores à descoberta da "impressão digital".

Teríamos que nos congratular, já que diminuiria o número de suspeitosos, que suponho ser elevadíssimo e não só no Governo, nos Ministérios, Câmaras Municipais, Juntas de Freguesia, clubes de futebol, dirigentes desportivos, Federação de Futebol, Liga de Futebol e … fico-me por aqui, pois parece que não tenho mais suspeitos …


- O principal é fazer história, não escrevê-la ! (Bismark, príncipe alemão, 1815-1898)

SENTIMENTOS ESCONDIDOS




Uma professora do ensino básico pediu aos alunos que escrevessem uma redacção sobre o que gostariam que Deus fizesse por eles.

Ao fim da tarde, quando corrigia as redacções, leu uma que a deixou emocionada.

O marido, que nesse momento acabava de entrar, viu-a a chorar e perguntou:

- Que aconteceu?

Ela respondeu:

- Estou a ler umas redacções que pedi aos alunos para fazerem. Olha lê tu isto.

Era a redacção de um aluno.

"Senhor, esta noite transforma-me num televisor!
Quero ser um televisor.
Ter um lugar especial para mim e reunir toda a família à minha volta ...
Ser levado a sério quando falo ...
Ser o centro das atenções e ser escutado sem interrupções nem perguntas. Receber o cuidado que a televisão recebe quando não funciona.
Ter a companhia do meu pai e da minha mãe quando chegam a casa.
E ver os meus irmãos pegados para estarem comigo.
Sentir que a minha família deixa tudo de lado para passar alguns momentos comigo.
Não te peço muito, Senhor.
Só quero ser um televisor, ter a vida normal de um televisor!"

Naquele momento, o marido da professora comentou:

- Meu Deus, que vida triste deve ter esta criança! E que pais!

Ela olhou-o e respondeu:

- Esta redacção é do nosso filho.


sábado, 17 de novembro de 2007

- Somente o justo desfruta de paz de espírito ! (Epicuro, filósofo grego, 341-270 a.C.).

O LIBERTADOR





Os espanhóis têm que estar gratos pela "celérica" resolução do problema ao presidente, Sarkozy.

Graças a ele, as hospedeiras espanholas, enjauladas no Chade, recuperaram o voo.

Também graças a ele, Sarkozy, muitos espanhóis encontraram novos motivos para zurzir em Zapatero.

Para mim, as comparações só são odiosas para uma das partes comparadas, já que a outra parte sai sempre a ganhar.

Enquanto chovem elogios ao presidente francês pela sua contestada diligência, caiem lanças sobre o presidente espanhol, pela sua suposta passividade.

Conta-se que Miguel de Unamuno, quando ouvia falar desmesuradamente bem de alguém, perguntava sempre:

- "Contra quem é esse elogio?"

Todos sabemos que algumas formas de solariedade só encobrem publicidade.

A bondade pode ser rentável.

Condoleezza Rice anunciou que os EUA revisarão o plano de ajuda a Islamabad e assegura que Washington contribuiu já com 11.000 milhões de dólares para a luta antiterrorista.

Também há países que se aprestam a dar-lhe uma mão aos que se estão a afogar em Tabasco.

Pobre México!

Que não sabe se agora está mais longe de Deus que em outras épocas, porque fica à mesma distância dos EUA.

Quando ocorreu a catástrofe de Nova Orleães, há um par de anos, os EUA receberam apoio logístico e material do México, mas a pena é que para serem solidários tenham que ter siso previamente desgraçados.

Estes caritativos oportunistas políticos, altamente rentáveis, têm a vantagem de não exigir o registo do altruísmo, já que só necessitam da não menos inestimável virtude política da pontualidade.

Isso não impede a gratidão espanhola ao senhor Sarkozy, que tanto se aprontou, enquanto permitia que outros apontassem ao seu colega espanhol.

Assim, podem dizer os espanhóis:

- Obrigado, senhor presidente!



quinta-feira, 15 de novembro de 2007

- O homem é a única criatura que se recusa a ser o que é. (Albert Camus).

ESTRANGEIROS ???



Chegamos a ser um país tão cosmopolita que ninguém pode estranhar que um taxista brasileiro morra apunhalado por um negro da África Tropical.

Do lutuoso desastre não devemos inferir a conclusão de que um taxista negro, não possa ser apunhalado por um brasileiro, nem que ambos não possam sucumbir ás mãos de um qualquer transeunte português, mas estas coisas fazem aparecer na actualidade a palavra xenofobia, que não perdeu a sua vigência desde Péricles, ainda que tenham decorrido alguns séculos desde o seu.

O dicionário define o termo xenofobia como, "ódio, repugnância e hostilidade para com os estrangeiros".

Talvez lhe devamos acrescentar, mas uma coisa é indicar e outra opinar, que esse tenebroso sentimento só o provocam os estrangeiros pobres.

Se vem um negro numa balsa ou canoa, procuramos devolvê-lo, quanto antes, ao seu país de origem, mas se por exemplo, se chegar o Pelé, pedimos-lhe um autógrafo, além de lhe pedir que prolongue a sua residência entre nós.

Para ser considerado verdadeiramente estrangeiro teve que demonstrar anteriormente a condição de pobre.

O dinheiro é uma nacionalidade.

Agora na Europa correm ventos xenófobos e o ar está a levar as folhas dos evangélicos cristãos que terão resistido a algumas desencadernações do catolicismo.

Na Suiça, a ultra direita xenófoba acabou de confirmar o seu esperado triunfo nas legislativas.

Os suíços não desejam compartilhar com ninguém o desejo de sê-lo, já que lhes custou bastante tê-lo conseguido.

A verdade é que todos gostaríamos de ser suíços amadores.

Segundo Jardiel Poncela (*), ali toma-se um pequeno almoço, constituído por café com leite e um bolo a acompanhar, chamado "espanhol".

A história sempre dependeu da geografia e é tal a desigualdade entre os diversos países continentais que falar de União Europeia é todavia um sonho.

Aqui somos os de dentro e os de fora.


(*)Henrique Jardiel Poncela Escritor espanhol, de teatro humorístico, mundialmente conhecido, com um senso crítico muito forte e personalizado, da década de 30/40.
Teve altos e baixos e trabalhou para roteiros de cinema em Hollywood.
O seu ambiente de trabalho eram os cafés madrilenos onde passava horas a tomar café e a escrever.
Em Hollywood, não se adaptou ao local de trabalho e pediu para lhe montaram uma réplica dos cafés europeus, pois o trabalho não lhe rendia.
Com esse ambiente foi profícuo.
Tem um pensamento interessante, " aqueles que gostam dos gatos são as pessoas que necessitam amar e aqueles que gostam dos cachorros são as pessoas que necessitam de ser amadas" .
Aconselho, "La ajetreada vida de un maestro del humor" (A intensa vida dum maestro do humor).

quarta-feira, 14 de novembro de 2007

- Não há vento favorável para aquele que não sabe aonde vai ! (Séneca)

CONTINUAM AS VIAGENS !!!


Esta não a reencaminhem!








Temos mais sítio no nosso coração para os imigrantes que em nossa casa.

Todos nos comovemos nos momentos livres, vendo na piscina vertical da TV, como chegam os que atravessaram os mar em canoas.

Gostaria fazer alguma coisa por eles, entre outras coisas, restringir a sua entrada, já que não cabem, tanto em Itália, Portugal e Espanha.

Espanha é um passador.

A hospitalidade tem muito a ver com o espaço e temos que compreender que assim como podemos alojar todos os turistas ricos, é materialmente impossível dar hospedagem a todos os hospedeiros pobres.

Quem teve paciência para contá-los assegura que 15.000 bolivianos entram mensalmente em Espanha, pela porta principal, Barajas, o aeroporto da capital, o que significa que num par de meses, chega mais gente da Bolívia que do Sahara em todo o ano, segundo os números que vêm na imprensa.

Parece-me que ninguém pergunta por que chegam tantos.

Pelo menos não têm nada a perguntar a quem chega a Espanha vindo desse país atravessado por uma majestosa cordilheira, com um lago como oceano, cheio de fronteiras e de homens.

Ninguém pode dizer que a imigração massiva seja um problema de solução fácil, mas pode-se afirmar que todos o resolvem muito mal.

Nas formosas Canárias, que deixaram de ser afortunadas, manifestantes gritam: "Não cabemos mais!".

O Senegal não aceita já, mais imigrantes contra-reembolso, depois de quase 5000 terem sido devolvidos.

Qual a decisão a tomar?

De momento, adopta-se a queixa do comportamento de muitos deles que já conseguiram estabelecer-se entre nós.

Parece que a sua conduta não é irrepreensível.

Grupos latino-americanos rivais envolvem-se em brigas.

Já se sabe, "nós somos bons porque levamos uma boa vida", como disse o poeta "beatnik".

Parece que, os Latin King, os Ñetas e os Domincan Dont Play, não foram autorizados a entrar em Espanha.

Ainda que todos tenham ido lá, para comer qualquer coisa.


terça-feira, 13 de novembro de 2007

- Crê nos que buscam a verdade. Duvida dos que a encontraram ! (André Gide)

A INTIMIDADE DE CADA UM !





La persistencia de la memoria, Salvador Dali


Aos homens públicos torna-se muito difícil manter em segredo a sua intimidade.

Sucede o contrário ás mulheres públicas, donde ambas as coisas estão interligadas.

Agora fareja-se a conduta dos políticos, nos escassos tempos que procuram estar longe da política, quiçá para se desintoxicarem ou para comprovarem que não há nenhum lugar pior.

No Reino Unido há detectives que indagam comportamentos homossexuais, como se fosse incompatível ser um bom gestor da comunidade com o preferir das coristas pelos camionistas.

Ser ligeiramente efeminado, segundo o acerto expressivo de Fidel Castro, não inabilita para dedicar-se ao bem comum.

Tão-pouco o contrário.

Os biógrafos de Miterrand, que não publicaram os seus livros enquanto foi vivo o protagonista, descobriram-lhe relações secretas que todo o mundo conhecia, a par de filhos desconhecidos que todo o mundo conhece.

Esse letreiro que diz, quase sempre em letras garrafais, "Proibida a entrada, zona privada", não combina em política.

Segundo José Ortega (*), que foi um dos poucos espanhóis que utilizou a cabeça para pensar em vez de investir contra os seus compatriotas, disse que o mandar deve ser "um anexo da exemplaridade".

Mas até que ponto se pode ser exemplar em coisas que não servem mais de exemplo aos que indagam nas vicissitudes, caprichos ou peripécias sentimentais de pessoas publicamente relevantes.

Kim Jong-II, o ditador norte coreano deve ser execrado por apilhar uma fortuna de mais de 3000 milhões de euros, não por gostar de mulheres e tomar uns copos com elas nos momentos livres.

O presidente de Israel, Moshe Katsav acusado de abusos sexuais e actos indecentes, merece a desaprovação por outras coisas, além do mais, presumivelmente, por essas.

Quero dizer que é preferível que os deuses nos dêem um bom político que uma boa pessoa.

Há menos!

(*) José Ortega y Gasset, 09Mai1883/18OUT1954, espanhol, foi um dos maiores aforistas, (ditos sentenciosos), da humanidade. Até 1910 defende uma filosofia de tendência objectivista, na qual se dá um primado ás coisas e ás ideias sobre as pessoas. A partir de 1914, muda completamente o pensamento, primeiro para descobrir as causas do perspectivismo e posteriormente, (1924), o sentenciar humorístico da vida contemporânea em Espanha. Alguns livros: As Atlântidas, A desumanização da Arte, Ideias e Crenças, O Tema do Nosso Tempo e muitos outros.


segunda-feira, 12 de novembro de 2007

- A água corre tranquila quando o rio é fundo ! (William Shakespeare)


Por um punhado de, “UM RIM”





O famoso reality-show holandês que quis sortear um rim, acabou, tudo não passando duma ficção publicitária.

Não sem se ouviram ou leram, mas vou contar o filme: a cadeia holandesa de TV BNN, um reality da ENDOMOL, uma doente terminal que oferece um rim e três doentes à espera dum transplante, competem para ver quem tem a sorte de o levar.

Escândalo, polémica, intervenção dos poderes públicos.

Finalmente a cadeia de TV, aclara tudo: a doente doadora, era uma actriz e o ruidoso anúncio era uma estratégia publicitária, para alertar e animar a população, para doarem os seus orgãos.

Verdade?

Mentira?

Quando alguém te engana uma vez, à segunda não podes estar seguro de que diga a verdade.

De qualquer maneira, não haverá competição de doentes pelas vísceras.

Há quem tenha respirado aliviado depois de saber que tudo era uma artimanha publicitária.

Eu creio que era exactamente o contrário!

Até agora, o que tínhamos exposto, era que uma cadeia de televisão e uma produtora, habituadas a levar as coisas demasiado longe, davam um novo passo em frente, num caminho que já bem conhecíamos.

O que temos a partir deste momento, pelo contrário, é realmente grave e mais a mais, amarra-nos numa dinâmica de consequências imprevisíveis: já não estamos contra o habitual atentado à dignidade humana, ofensiva esta a que ainda não estamos preparados para responder-lhe, mas sim, agora, temos de enfrentar o desaparecimento absoluto do critério de verdade, nas estratégias do ecrã da televisão.

Se alguém te quiser roubar a carteira, sabes o que deves fazer: defender o teu direito de propriedade, o qual passa pela polícia e pela defesa própria.

Mas se o que ocorre é que aparece um larápio que te diz ir roubar-te a carteira, pões-te em posição, tipo Bruce Lee e, em transe, o larápio tira o disfarce e diz-te que é um polícia e que tudo não passa duma brincadeira com uma câmara oculta, “olhe, está ali a câmara!”, então:

1) – Ficas com cara de imbecil

2) – O direito que ias esgrimir fica convertido em algo menor e como desdenhável.

3) – O autor da “brincadeira” de mau gosto ri-se nas tuas “ventas” e ainda tens que dar graças porque era tudo uma piada .

As opções, 1), 2) e 3), acumulam-se no baixo-ventre e nesses momentos, não sabes se hás-de pegar fogo à sede da BNN, por chulos, ou voltares a tua casa, com a cabeça coberta com a gabardina e decidido a não saíres mais por aí fora, onde o perigo da televisão poderá acessar.

Alguém acreditou na BNN, que era para tomar o pulso ás pessoas, para enganar o público, para gozar brincando com o conceito comum de dignidade, empregando-o como ferramenta de uma chicana, por mais social que seja a sua motivação ?

Alguém comparará, este episódio, com o de Orson Welles e os seus marcianos radiofónicos .

Mas há uma grande diferença: na época de Welles e incluso na nossa, uma invasão marciana, era inverosímil; hoje, pelo contrário, é verosímil que a televisão rife um rim !!!

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

- O pensamento é a grandeza do homem !

RESSACA





Num desses países a que "se lhe tiramos tudo e lhe deixamos tudo" - o idioma - segundo imperecíveis palavras de Pablo Neruda, à ressaca etílica, chamam-lhe estar "dependentes de ontem".

Se um bebeu uns copos a mais, ou seja, os suficientes, o dia de amanhã apresenta-se sombrio.

Há que protelar o arrependimento, já que uma mancha de amora com outra verde, tiram-se.

Quero dizer desde já que ninguém me argumente com a sua experiência, que depois duma noite onde se bebeu muito, há que beber algo.

Para equilibrar os níveis.

Não serve o sumo de tomate com vodka, nem gema de ovo crua com pimenta.

O único remédio é a cama.

A cama cura tudo, excepto a última enfermidade, quando já não nos podemos levantar dela.

Penso nestas coisas porque vivemos o incómodo da ressaca política dos últimos ressabiados, que precipitaram todos os acontecimentos.

O presidente, porque foram os correligionários que foram corridos, o 1º porque afirma que será implacável, depois de ter sido largamente aplacador, do défice.

Não se lhe vê o papel de duro, só o sentimos e de que maneira, na algibeira.

O homem faz o que pode, mas simula uma energia pouco credível.

O orçamento será benéfico para nos levar os últimos cêntimos e até o cotão dos bolsos.


quinta-feira, 8 de novembro de 2007

- O segredo de aborrecer é dizer tudo !

A METADE DA METADE






Os objectivos do milénio, formalmente acordados por Portugal, em comunhão com mais 188 países, tiveram que ser adiados, quiçá para dentro de outros mil anos.

Prometer nunca empobreceu ninguém e oferecemos coisas de difícil cumprimento, tais como, erradicar a pobreza e a fome, conseguir o alfabetismo primário universal, reduzir a mortalidade infantil, para evitar que vão tantos anjinhos para o céu e acomodá-los bem, para a sua estadia na terra …

Nada disto tem sido cumprido, o contrário é que era para nos admirarmos.

Nem sequer a metade da metade.

As ONG acusam o governo de tacanhez na ajuda ao Terceiro Mundo e promovem mobilizações.

Não é o mesmo pregar, que dar trigo, mas o pior é dar menos do que se havia dado.

Muito menos do que o que se destinava nos anos 60/70, onde havia gente que ainda acreditava que o mundo era um local a melhorar.

A piedade não está a passar pelo seu melhor momento, mas tão pouco vive uma boa época, essa forma inteligente de egoísmo que suspeita que, se não damos algo aos que nada têm, podem vir a roubar-nos tudo.

Não sei quanto do PIB, o executivo destina a ajuda oficial ao desenvolvimento.

Não é muito … ou é nada, pelo que se vê de avanço.

Não sei quem faz as contas e verifica os números, mas não tenhamos ilusões … acho que se algo é disponibilizado, é para promover as empresas nacionais no exterior.

É uma pena que as boas palavras não sejam comestíveis.

Levamos anos e anos de atraso, desde que se instituiu o Dia Internacional da Erradicação da Pobreza, (17/10), mas vamos adiando de um dia para o outro.

Os compromissos levou-os o vento de igual modo que leva os desnutridos que nada pesam.

O velho lema "levantemo-nos contra a pobreza" cumpre-se aos poucos.

Nós levantamo-nos, todos os dias, mas é para tomar o pequeno almoço!



terça-feira, 6 de novembro de 2007

- Qualquer coisa que possa fazer, ou sonha que pode fazer, comece a fazê-la. A ousadia tem em si a genialidade, a força e a magia !

BRASIL – OS INFERIORES






O presidente do Brasil, Lula da Silva, pôs uma mão no ombro e decidiu perdoar-se a si mesmo, ao mesmo tempo que desviava os escândalos de corrupção para os seus colaboradores.

Isso de conceder a ele próprio o perdão, é uma prática benéfica.

Recomendava-a Miguel de Unamuno, que era um ser religioso, no sentido de que se sentiu sempre relegado para isso que chamamos divindade, não porque se acredite que comungando todos os domingos do mês, se garanta uma tribuna no céu quando morrermos.

"Se tu não te perdoas, não te perdoa Deus", dizia o grande Unamuno.

Fez muito bem o presidente brasileiro em perdoar-se a si próprio, mas fê-lo para salvar-se e alcançar a reeleição.

Está acossado pela corrupção e defendido unicamente pela sua irreparável cara de pobre.

Na reeleição, os militares participaram na sua campanha o que tem sempre o perigo de converter as urnas em tanques, com uma varinha mágica ou com um bastão de comando.

Lula da Silva, delegou todos os escândalos de corrupção, do que lá, no Brasil chamam, o "dossiergate", nos seus mais íntimos colaboradores.

Para que servem, senão para isso?

Quando começam a rolar cabeças, as primeiras são as dos com menos conteúdo.

Demonstra-se uma vez mais que os segundos a "bordo", são escolhidos para serem os primeiros que se têm de atirar borda fora.

Lula é um humilde trabalhador até que deixou de ser as duas coisas.

Agora resiste e não reconhece nenhum erro.

É curioso que uma pessoa surgida do puro povo, deixe de pertencer a esse povo, quando deixa de ser um de tantos.

O egrégio, etimologicamente é o que sabe da grei, mas alguns só devem deixar-se sair para metê-los na prisão.