quarta-feira, 10 de outubro de 2007

"ADEUS E BOA SORTE"




Como já nos despedimos, vocês e eu, do Verão, antes de desejar que desfrutem de um Outono plácido e não muito quente, vibrante mas não colérico, gostaria de dizer-vos adeus, utilizando o título de um filme que fosse admirável.

"Boa noite e boa sorte", (Good Night, and Good Luck, EUA, 2005), que dirigiu com valentia, George Clooney e que fala de jornalistas e cidadãos, cada dia mais necessários, cada dia mais indispensáveis se não querem seguir, (os jornalistas), avançando até ás cavernas, que nos saqueiam a tiros de míssil e produzem cada vez mais bebedeiras.

Falo de jornalistas honestos, jornalistas independentes, jornalistas que servem os seus leitores, insubornáveis, críticos, furiosos, fieis ao compromisso com o jornalismo que ajuda a soerguer a travessia por um mar de chamas, incerto, infestado de incógnitas.

E falo de cidadãos igualmente honestos, responsáveis, insubornáveis, críticos, curiosos, fieis ao compromisso de cidadania de adicionar forças para soerguer, entre todos a travessia para um céu gelado, incerto, infestado de tormentas que se avizinham.

Boas noites e boa sorte, agora que se vislumbra um tempo de novas formas de crispação; boas noites e boa sorte, agora que é difícil, ainda que apeteça voltar as costas aos problemas alheios, aos muros inúteis que se elevam entre campos de escória, ao ódio que campeia dilatado, as más práticas que se infiltraram na política, o grito, a vacuidade, a perda de tempo, de controlo do volante, de energia e da vida.

Brindemos, vocês e eu, não nos ponhamos trágicos, com um "coquetel" que lhe dê na real gana preparar-nos, nos seus 90 anos cumpridos, há uns tempitos, esse mesmíssimo Hoy Wong (*), que ainda podemos encontrar no Hotel Algonquin, de Nova Yorque e cujos preparados, alegraram a vida de Marilyn Monroe, que sabia muito bem, (tudo), o que bebia.

Um brinde de despedida, assim como quem não quer a coisa, com os olhos postos em tudo o que nos falta desfrutar da vida, recordando, a cada passo, algumas das despedidas literárias mais belas que se escreveram: os Cem anos de saudade, (Garcia Márquez), O Amante, (Marguerite Duras) e a Cerimónia do adeus, (Simone de Beauvoir).

Foi um prazer ter compartido com todos, este tempo de sol, talvez este ano, menos abrasador, mas de mares virgens para conquistar.

Amanhã regressa com todos nós, Garcia Márquez; digo-lhe até amanhã, boa noite e boa sorte!

(*)
Barman mais antigo de Nova Iorque, que aos 90 anos continua a preparar bebidas.



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